terça-feira, 13 de janeiro de 2009

«Gestos»


Quando saíste pela porta amarela
reparei na tua saia de folhos
cor das nuvens
Graciosamente, viraste o rosto trémulo
e gasto pelos dias empoeirados...
Disseste algo por entre os lábios
que acalentava o vento
e te ondulava os cabelos
Senti que não devias partir
Saí porta fora e não...
E não te vi
Calculei-te no arvoredo próximo
e percorri sempre ofegante
os rastos dos teus traços
Tirei simetrias e medi
as distâncias dos teus passos
Dobrei toda a avenida
e lembrei-me de falares
na estação, provavelmente,
ou de um táxi que passasse
de repente,
como ponto de partida
Parei estatuado na estação
de comboios
Os meus olhos loucos
buscavam-te em todas as direcções
Saía um comboio naquele instante
e corri atrás
As janelas percorreram-me os olhos,
e na última de todas, jazias tu
com a postura imóvel das partidas.

Foto: Pedro G. Neves